sexta-feira, 23 de maio de 2008

O CORPO E O SANGUE DE JESUS

É o que sempre dizemos por aqui e por nossa publicação impressa. Quando a participação aparece, a situação transforma-se de maneira pra lá de evidente.

Recebemos o texto que publicamos na íntegra, do Yberê, paroquiano que já estava na nossa mira por sabermos haver nele possibilidade de contribuições como esta que aqui temos o enorme prazer de apresentar. Agora, resta-nos esperar pelos comentários de quem nos honra com visitas, que sempre inundam de alegria nossos corações.

O Corpo e o Sangue de Jesus; Mistério de Fé

Éolo Yberê Líbera

É isto que a Igreja ensina, foi assim que eu aprendi e, principalmente, é nisto que eu creio:

“No centro da celebração da Eucaristia temos o pão e o vinho que, pelas palavras de Cristo e pela invocação do Espírito Santo, se tornam o corpo e o sangue do mesmo Cristo. Fiel à ordem do Senhor, a Igreja continua a fazer, em memória d'Ele e até à sua vinda gloriosa, o que Ele fez na véspera da sua paixão: «Tomou o pão...», «Tomou o cálice com vinho...». Tornando-se misteriosamente o corpo e o sangue de Cristo, os sinais do pão e do vinho continuam a significar também a bondade da criação. Por isso, no ofertório [apresentação das oferendas], nós damos graças ao Criador pelo pão e pelo vinho (164), fruto «do trabalho do homem», mas primeiramente «fruto da terra» e «da videira», dons do Criador. A Igreja vê no gesto de Melquisedec, rei e sacerdote, que «ofereceu pão e vinho» (Gn 14, 18), uma prefiguração da sua própria oferenda(Catecismo da Igreja Católica, 1333)

Ao longo de toda sua história, a Igreja repete este magistério que consagra o grande mistério eucarístico, posto acima de nossa inteligência e da nossa limitada forma humana de pensar. Paulo VI nos ensina :

“(4) E para que ficasse bem claro o nexo indissolúvel entre a fé e a piedade, os Padres do Concílio, confirmando a doutrina sempre defendida e ensinada pela Igreja e definida solenemente pelo Concílio de Trento, julgaram dever iniciar a matéria do Sacrossanto Mistério Eucarístico por esta síntese de verdades: ‘O nosso Salvador, na última Ceia, na noite em que foi traído, instituiu o Sacrifício Eucarístico do seu Corpo e do seu Sangue, para perpetuar o Sacrifício da Cruz pelos séculos afora, até à sua vinda, deixando deste modo à Igreja, sua dileta Esposa, o memorial da sua morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal, em que se recebe Cristo, se enche a alma de graça e é dado o penhor da glória futura’. (5) Com estas palavras exaltam-se ao mesmo tempo não só o Sacrifício, que pertence à essência da Missa, que todos os dias é celebrada, mas também o sacramento, no qual os fiéis comem, pela sagrada comunhão, a carne de Cristo e bebem o seu Sangue, recebendo assim a graça, antecipação da vida eterna e "remédio da imortalidade", segundo as palavras do Senhor: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna e eu ressuscitá-lo-ei no último dia".(2)( Carta Encíclica Mysterium Fidei,(4-5)

Assim, está assente para a Igreja que o dogma da transubstanciação é uno e não comporta interpretações ou entendimentos outros que não aquele que desde a igreja primitiva acompanha este formidável mistério, herança deixada pelo próprio Senhor, em sua derradeira ceia.

Coerente com isto, não se pode admitir que o pão e o vinho somente mudem de significado e de finalidade no altar. Cristo não nos disse que aqueles alimentos significavam seu corpo e seu sangue; que simbolizavam seu sacrifício; que era apenas um mero sinal da presença. “Esta presença chama-se "real", não por exclusão como se as outras não fossem "reais", mas por antonomásia porque é substancial, quer dizer, por ela está presente, de fato, Cristo completo, Deus e homem. Erro seria, portanto, explicar esta maneira de presença imaginando uma natureza "pneumática", como lhe chamam, do corpo de Cristo, natureza esta que estaria presente em toda a parte; ou reduzindo a presença a puro simbolismo, como se tão augusto Sacramento consistisse apenas num sinal eficaz "da presença espiritual de Cristo e da sua íntima união com os féis, membros do Corpo Místico".(Paulo VI – M.F.41)

No entanto, há aqueles que ao falarem ou escreverem sobre o Mistério Eucarístico e sobre o dogma da transubstanciação, divulgam opiniões que perturbam a crença dos fiéis, “como se fosse lícito, a quem quer que seja, passar em silêncio a doutrina já definida da Igreja ou interpretá-la de tal maneira, que percam o seu valor o significado genuíno das palavras ou o alcance dos conceitos”. (Paulo VI M.F.10)

Em verdade, a transignificação e transfinalização com que a razão humana procura tornar pequena e desimportante a Santa Eucaristia somente encontra guarita nos corações dos que não se entregam, como aqueles discípulos que ao ouvirem falar de comer carne e beber sangue, voltaram as costas e abandonaram o Senhor, dizendo: “Duras são estas palavras! Quem pode escutá-las? Perguntando então Jesus se também os Doze se queriam retirar, Pedro afirmou, com decisão e firmeza, a fé sua e a dos Apóstolos, com esta resposta admirável: "Senhor, a quem iremos? Tens palavras de vida eterna!" (Jo 6,61-68 – in Paulo VI M.F.21).

De resto, importa saber que é o próprio Deus quem santifica a oblação que fazemos e não o homem que preside a celebração eucarística e que recebeu diretamente dos apóstolos o mesmo poder (ou direito) que a eles foi dado para invocar sobre as ofertas as bênçãos do Pai.

Portanto, aqueles que têm fé e a professam, aqueles que, por dever de ofício, devem ensinar a boa doutrina e proclamá-la com autoridade, sempre e em toda parte e perante todos os fiéis, estão obrigados a ela, não ensinando sua própria e pessoal “versão” daquilo em que não conseguem acreditar ou que também consideram “duras” verdades de fé.

Na solenidade de Corpus Christi, peçamos a Jesus sacramentado que desarme nossa inteligência e racionalismo e nos faça crer que aquele pão não é mais pão, que aquele vinho não mais é vinho, porém verdadeiramente são o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, dado em penhor de seu sacrifício na cruz.

(Corpus Christi, maio/2008)

Belo Horizonte, 23 maio 2008